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Fisioterapia aquática em Unidade de Terapia Intensiva Neo-Pediátrica

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) trata-se de um setor fechado e, por mais que hajam todos os cuidados do mundo pelos colaboradores, não deixa de ser um ambiente estressor.

Barulhos de alarmes de monitores, ventiladores mecânicos, bombas infusoras, portas, conversas e outros mais ruídos podem servir como fatores de risco para o estresse dento da UTI.

Existe um determinado perfil de pacientes, os bebês, que pode ser contemplado com uma técnica relaxante e terapêutica para tentar fugir de toda esta sobrecarga sensorial.

Trata-se da fisioterapia aquática ou hidrocinesioterapia. Alguns nomes populares também vêm sendo utilizados como banho de ofurô ou banho no balde.

A fisioterapia aquática pode ser uma atividade saudável e de prevenção.

 

 

 

 

 

 

Esta modalidade terapêutica pode ser utilizada com eficiência como tratamento coadjuvante na terapia de sono, para melhorar o estímulo à alimentação, como método de redução da dor e estresse e na prevenção de anormalidades posturais.

Dentro da UTI, a técnica tem se mostrado benéfica em neonatos estáveis clinicamente quando feita com técnica elaborada por profissionais competentes e com o apoio de toda a equipe multiprofissional.

Como fazer?

Para a realização do “banho terapêutico”, é necessário apenas um recipiente (balde ou ofurô) e água quente, entre 38 e 42 graus Celcius.

Evita-se utilizar cubas de metal para evitar risco de queimaduras no bebê, caso seja utilizado algum artefato térmico na água para aquecê-la.

Os recipientes utilizados também não podem ser muito porosos para que seja possível uma boa higienização e desinfecção.

O bebê deve ser colocado submerso na água até o pescocinho, ficando apenas com a cabecinha para fora.

O motivo disso é utilizar de uma propriedade que é a pressão hidrostática, fazendo com que todo o corpinho do bebê receba a mesma pressão e o mesmo contato, com a exceção das mãos do profissional.

Ao ser submerso na água, o bebê começa a ter sensações muito parecidas às sentidas quanto estava ainda na barriga da mamãe: um lugar quentinho, confortável e totalmente protegido.

Estas sensações associadas aos benefícios da água quente, favorecem o relaxamento e sensação de bem-estar.

Os movimentos a serem realizados são o de flutuação, turbilhonamento na água e até técnicas de massoterapia e/ou manobras de fisioterapia respiratória.

Vale salientar que por mais que seja um “banho terapêutico”, sabonetes em barra ou líquido não devem ser utilizados para garantir a segurança do bebê, impedindo assim que ele escorregue pelas mãos do fisioterapeuta.

Mais benefícios

Fisiologicamente, a técnica auxilia na diminuição de alguns dados vitais como frequência cardíaca e respiratória e aumenta outro dado que vem a ser a saturação periférica de oxigênio.

Todos estes dados somados corroboram para uma melhor homeostasia do bebê.

Em casos de análise comportamental, o “banho terapêutico” pode diminuir a dor e o estresse dos bebês, dados estes estudados através da utilização de escalas subjetivas como a Escala de Brazelton Modificada e a Sistema de Codificação de Atividade Facial Neonatal (NFCCS).

Em suma, através da hidrocinesioterapia, os recém-nascidos acabam sendo contemplados com a diminuição da sobrecarga sensorial.

Isto implementa uma grande lista de benefícios como: melhora do ciclo de sono X vigília, diminuição ou profilaxia da perda de peso, melhora do estímulo durante a amamentação, melhora da plasticidade cerebral devido a melhora do fluxo sanguíneo, diminuição dos níveis de cortisol melhorando a homeostasia devido a diminuição do hormônio do estresse.

Ainda há mais um benefício a ser ressaltado, o carinho trocado durante todo este momento.

Sem dúvida alguma, quando a técnica fisioterapia aquática é bem indicada e ainda é realizada de maneira eficaz pelo profissional ou indivíduo que está fazendo, o vínculo emocional enaltece os corações o que faz tornar a técnica ainda mais atrativa e realizada.

Por Juliana Thiemy Librelato.
Fisioterapeuta
Especialista em Fisioterapia em Unidade de Terapia Intensiva
Especialista em Fisioterapia em Neo-Pediatria
Fisioterapeuta da Profísio Assistência Fisioterápica
Professora da Faculdade Inspirar

Referências

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Reabilitação precoce do paciente amputado

Amputação consiste na retirada total ou parcial de um membro não funcional devido doença ou lesão, sendo a amputação de membro inferior mais frequente que a de membro superior.

As causas mais comuns são diabetes, doença vascular periférica, infecções, traumas e tumores malignos e, dentre estas, as causas traumáticas correspondem a 20% dos casos, atingindo mais o adulto jovem do sexo masculino, decorrentes de acidentes de trânsito ou ferimentos por arma de fogo.

A cirurgia de amputação tem por objetivo retirar total ou parcialmente o membro acometido e criar novas perspectivas de funcionalidade para a região amputada.

Sabe-se que quanto mais longo o membro residual e melhor a qualidade da cicatrização, melhor o prognóstico de reabilitação e adaptação à prótese.

O programa de reabilitação no pós-operatório é dividido em fase pós-cirurgica, que compreende o tempo entre a cirurgia e a protetização, e a fase protética que se inicia com a entrega do membro de reposição permanente .

Quanto mais precoce iniciar o processo de reabilitação, melhor a recuperação e adaptação do paciente à nova condição e menor a chance de complicações como contraturas musculares, debilidade geral e estado psicológico depressivo.

A reabilitação necessitará de uma ação conjunta da equipe multidisciplinar e, quando possível, as ações de reabilitação podem ser iniciadas na fase pré-cirúrgica, com avaliação física, melhora do condicionamento cardiopulmonar, orientações sobre prognóstico funcional e metas de reabilitação a serem atingidas.

Nesta fase também se inicia o preparo psicológico para lidar com todo o processo, facilitando a aceitação da nova condição e adesão ao programa de reabilitação.

O fisioterapeuta precisa estar envolvido logo cedo no atendimento do paciente amputado.

O profissional é responsável por avaliar a condição do membro acometido, mensurar e melhorar sua função cardiopulmonar e fisiológica geral, pré e pós cirúrgica, analisar o grau de independência, identificar alterações de sensibilidade e dor fantasma, orientar o paciente, familiares ou cuidadores e definir planos para alta hospitalar.

 

Fase hospitalar

Após o procedimento cirúrgico, o fisioterapeuta se depara com um paciente fragilizado pelo procedimento, em luto (ou em negação) pela perda do membro acometido e apresentando quadro álgico intenso, tanto no local da incisão cirúrgica, quanto no membro fantasma.

Os primeiros atendimentos não são fáceis e é necessário que toda a equipe esteja envolvida a fim de acolher o paciente de forma humanizada, amenizar o sofrimento, gerar conforto e incentivar a adesão do paciente e familiares no processo de reabilitação.

O fisioterapeuta terá como objetivo:

  • Garantir um equilíbrio muscular adequado, recuperando a função muscular prévia através de recursos como cinesioterapia, eletroestimulação e retirada precoce do leito.
  • Amenizar o quadro álgico no membro acometido e em outras regiões. É comum o paciente desenvolver áreas de tensão muscular devido ao tempo de imobilidade no leito, pela ansiedade e pelo quadro álgico, que mesmo com alternativas medicamentosas, demoram a se resolver. O fisioterapeuta pode utilizar de terapias manuais, bandagem funcional, eletro e termoterapia para auxiliar neste momento.
  • Impedir contraturas musculares e posturas viciosas assim como iniciar o processo de dessensibilização e modelagem do coto assim que for liberado pelo médico cirurgião responsável.
  • Estimular o paciente no desenvolvimento de habilidades, através dos treinos de transferências, de deambulação com muletas e de equilíbrio em ortostase.
  • Facilitar a aceitação da nova condição e favorecer o ajuste da imagem corporal.
  • Orientar o paciente e familiares quanto ao processo de reabilitação em todas as fases e sanar possíveis dúvidas que certamente surgirão.

Sucesso na Reabilitação

O sucesso do programa de reabilitação se dá pelo estado psicológico e fisiológico do paciente e pelas características do membro residual, garantindo a recuperação da funcionalidade pré-amputação.

É um processo longo, com várias etapas e objetivos a serem alcançados, porém com o comprometimento de todos os envolvidos o resultado deve ser favorável e o paciente será capaz de retomar sua vida, objetivos e sonhos que poderão ser os mesmos ou novos.

Existem vários pacientes amputados que nos marcaram, além de tantos outros exemplos ao nosso redor.

Exemplos de que a falta de um membro ou parte dele não limita e que sempre podemos superar os obstáculos que surgirem no caminho.

 

Por Larissa Mello Dias
Fisioterapeuta Prófisio – Coordenadora da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital do Trabalhador
Supervisora da Pós Graduação de Fisioterapia em Terapia Intensiva, Treinamento em Serviço – Faculdade Inspirar
Especialização em Terapia Intensiva pela Faculdade Inspirar

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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O’Sullivan S.B., Schmitiz T.J. Fisioterapia – Avaliação e Tratamento. 5ª edição. Ed. Manole. 2010.

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Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – Ministério da Educação. POP: Fisioterapia Ambulatorial em Amputado de Membro Inferior – Unidade de Reabilitação do Hospital das Clínicas da Universidade do Triângulo Mineiro – Uberaba: EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, 2015.

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Ultrassonografia muscular em UTI

Não é novidade que a doença crítica causa inúmeras consequências relacionadas à funcionalidade para o indivíduo em Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

O principal limitador de função, tanto na fase intra-hospitalar quanto na pós-hospitalar, é a fraqueza muscular adquirida em UTI, causada principalmente pelo imobilismo decorrente da instabilidade desses pacientes.

A mobilização precoce é o principal recurso utilizado pela fisioterapia na UTI, com objetivo de prevenir e diminuir essa perda de massa e força muscular.

Porém, a avaliação da força e da massa muscular ainda é uma dificuldade muito presente no ambiente de pacientes críticos.

Alguns dos recursos que podem ser utilizados para esta prática trazem limitações, como a perimetria, que é influenciada pelo balanço hídrico do paciente, e exames como tomografia e ressonância, que não podem ser realizados a beira leito, necessitando de transporte e sendo de alto custo.

A ultrassonografia (USG) como alternativa

A ultrassonografia (USG) aparece em vários estudos como um aliado a avaliação de massa muscular de pacientes criticamente enfermos.

A USG é considerada como um recurso confiável, seguro, acurado, facilmente aplicável e não invasivo para a avaliação muscular.

Além de não necessitar da colaboração do paciente, é um recurso portátil e com capacidade equivalente aos outros exames de imagem.

Com a utilização da USG é possível quantificar a perda de massa muscular, inferir diminuição de força muscular e observar a presença de necrose com acúmulo de colágeno e de gordura no músculo.

Recurso reconhecido

A importância desse recurso para os fisioterapeutas já é reconhecida pela lei federal 12.842, 12 de julho de 2013, e pelas resoluções 381/2010 e 400/2011 (Artigo 3º) do COFFITO, em que ressaltam que o fisioterapeuta especialista pode utilizar a USG com objetivo de realizar diagnóstico e avaliação de resultados.

A imagem da USG é obtida por meio de um transdutor, que emite ondas de ultrassom, acoplado a pele. Essas ondas se impactam com as estruturas do corpo e retornam para o transdutor formando uma imagem.

Geralmente, a avaliação musculoesquelética é realizada nos planos transversal e longitudinal, sendo quantificado espessura do músculo, área de secção transversa, ecointensidade e o ângulo e comprimento do fascículo.

Para que a avaliação por meio do USG seja validada é necessário padronizar as medidas entre os examinadores, buscando reprodutibilidade, e isso é possível por meio de um treinamento para padronização de protocolos.

É importante lembrar

É importante que o profissional domine as técnicas de aquisição de imagem, como qual transdutor escolher e qual área do músculo avaliar, posicionamento do transdutor e o cuidado para não comprimi-lo contra a região avaliada.

Inicialmente, eram mais utilizadas as medidas de espessura ou área de secção transversa muscular, que são relacionadas ao volume muscular, porém a diminuição de força muscular nem sempre estava relacionada a espessura.

Em complemento, um estudo relacionou o aumento da ecointensidade muscular com a diminuição de força e da capacidade funcional dos pacientes críticos, assim essa medida pode complementar a avaliação, sendo utilizada como um marcador de prognóstico para pacientes que não tem capacidade de realizar um teste funcional.

Uso na musculatura respiratória

Além da avaliação da musculatura responsável pela movimentação funcional do corpo, também é possível avaliar a musculatura respiratória, o que torna esse instrumento ainda mais relevante dentro da prática em terapia intensiva.

A utilização da USG no diafragma, com intuito de deduzir o sucesso de extubação e avaliar o efeito do treinamento da musculatura respiratória vem sendo a cada vez mais estudado, pode ser obtido a partir da avaliação da quantidade de disfunção diafragmática e de sua atrofia.

Para a obtenção desses dados, é avaliada:

  • Excursão diafragmática: velocidade e mobilidade da cúpula diafragmática;
  • Espessura diafragmática: realizada durante a contração, relacionada com a geração de força do músculo.

A redução da espessura do diafragma se inicia logo nas primeiras 48 horas de ventilação mecânica (VM), e demonstra ser um preditor de falha de extubação e de desmame ventilatório prolongado.

Sendo assim, a USG é um método cada vez mais importante para conhecimento do fisioterapeuta, e que deve ser usado para melhorar a avaliação e o plano de tratamento dos pacientes críticos.

 

Por Tauane Gomes da Silva
Fisioterapeuta na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital INC
Especialista em Terapia Intensiva pela Faculdade Inspirar
Mestre em Tecnologia em Saúde pela PUC PR

 

Referências

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