Posts

Quais são as principais órteses de membros inferiores e suas indicações na neurofuncional?

Sabemos que grande parte da população brasileira é composta por inúmeras pessoas com deficiência (AGNELO e ISMAEL, 2015) e que as doenças neurológicas acometem cada vez mais pessoas ao redor do mundo.

Elas podem se desenvolver antes ou durante o nascimento, como o caso da Paralisia Cerebral, por exemplo, ou se desenvolver no decorrer da vida, como o Acidente Vascular Cerebral, as Distrofias, Lesão Medular, entre outras.

Independente da etiologia, as doenças afetam os sistemas nervoso e neuromuscular (ORTOJUF, 2017).

Nesses pacientes com doenças de acometimento neurológico, podemos usar, como coadjuvante no tratamento de reabilitação, alguns dispositivos auxiliares chamados órteses – do grego, orthosis, que significa orthos = reto/ direito/ correção + sufixo sis = ação, ou seja, ação de endireitar (REZENDE, 2006).

As órteses são aplicadas externamente ao corpo e têm inúmeras funções dentro da reabilitação de pacientes com sequelas decorrentes de doenças neurológicas (ARAÚJO, 2011). Especificamente nos membros inferiores (MMII) as órteses têm alguns objetivos principais (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019):

  • Alinhar, prevenir ou corrigir deformidades;
  • Auxiliar, melhorar ou restaurar a mobilidade e função de um membro;
  • Facilita o ortostatismo;
  • Auxiliar na locomoção;
  • Proporcionar marcha funcional.

Mas para que uma órtese tenha um desempenho eficiente e permita resultados satisfatórios, a indicação pelo profissional de saúde (normalmente o Fisioterapeuta) precisa ser correta, bem como, a confecção da mesma deve ser feita por um técnico qualificado. (PINHEIRO, 2018).

As órteses são nomeadas de acordo com o(s) segmento(s) a que se relacionam. Assim, são considerados órteses de MMII desde calçados usados com propósitos clínicos, até as THKAFO – Trunk – Hip – Knee – Ankle – Foot Orthosis, as órteses Tóraco-podálicas (PINTO, 2009, p. 16). As mais utilizadas e suas indicações estão descritas abaixo.

  • Ankle – Foot Orthosis – AFO (Órtese Suropodálica): Indicações: Pacientes com sequelas neuromusculares de origem central ou periférica espásticas e flácidas. Existem vários tipos de AFO, a saber:
  • Supramaleolar (SMO): Com recorte acima dos maléolos, promove estabilidade porém não controla a dorsiflexão e a flexão plantar. Indicações: pacientes com instabilidade e desvios importantes em inversão ou eversão.
  • Dinâmica (Mola de Codeville, Leaf Spring): Permite movimento passivo de dorsiflexão com grande amplitude e limitação da flexão plantar. Indicações: pacientes com lesões periféricas ou paralisias flácidas, como lesão do nervo fibular – “pé caído”.
  • Articulada: Permite alguns graus de dorsiflexão. Indicações: pacientes deambuladores que apresentam movimentos passivos de dorsiflexão e com capacidade para extensão do joelho, seja em sequelas espásticas ou flácidas. Não indicadas: para cadeirantes, uso noturno, pacientes com marcha em agachamento (crouch gait).
  • Rígida (Fixa, Não articulada): Não permite movimentação articular do tornozelo. Indicações: pacientes com espasticidade grave e deformidades já instaladas em equino ou equino varo, bem como, aqueles que deambulam em crouch gait. Também indicada para uso noturno para manter o posicionamento alinhado.
  • Reação ao solo: Tem como principal objetivo a extensão do joelho durante a fase de apoio da marcha. Indicações: pacientes com fraqueza dos músculos sóleo e gastrocnêmio, pacientes diparéticos que têm marcha com flexão de joelho durante a fase de apoio.
  • AFO com estimulação elétrica: Com um sensor sob o calcâneo e os eletrodos de superfície nos músculos dorsiflexores. O sensor é acionado ao perder contato com o solo e a musculatura é estimulada, simulando o controle normal da marcha. Indicações: pacientes com lesões do tipo flácidas ou com discreta hipertonia.
  • Knee – Ankle – Foot Orthosis – KAFO (Órtese Cruropodálica/ Tutor Longo): Pode ser rígida ou articulada, com ou sem apoio isquiático. Restringe os joelhos na direção medial / lateral e hiperextensão. Indicações: pacientes hemiplégicos ou paraplégicos com controle pélvico e controle parcial sobre as articulações do joelho e tornozelo, sequela de poliomielite, lesão medular nível lombar, entre outros.
  • Órtese extensora de joelho (Goteira ou Lona extensora de joelho/ Órtese Cruromaleolar): Feita de lona e barras metálicas. Indicações: paralisia do aparelho extensor, manutenção do joelho em extensão para treino de ortostatismo e descarga de peso e em períodos pós-cirúrgicos. Também indicada para uso noturno para manter o alongamento de isquiotibiais.
  • Hip – Knee – Ankle – Foot Orthosis – HKAFO (Órtese Pélvico-podálica/ Inguino-podálica/ Tutor longo com cinto pélvico): As HKAFO possuem todos os componentes da KAFO adicionados à articulação de quadril e cinto pélvico. Indicações: pacientes com lesão medular acima da coluna lombar, para estabilização de tronco, pouco indicada para marcha, para pacientes que não apresentam controle sobre as articulações do quadril, joelho e do tornozelo. Pode ser adicionada de um componente torácico para pacientes sem controle de tronco. A articulação do quadril pode ser sem trava para pacientes com controle pélvico parcial e, com trava, para pacientes sem controle pélvico.
  • Trunk – Hip – Knee – Ankle – Foot Orthosis – THKAFO (Órtese Tóraco-Podálica): As THKAFO possuem todos os componentes da HKAFO adicionados à uma órtese torácica. (ESTAVA LOMBOSSACRA) Indicações: pacientes sem controle motor das articulações do quadril e MMII, utilizada para ortostatismo. Um exemplo de THKAFO é a RGO (Órtese de Reciprocação/ Mecanismo de Reciprocação) que, além de todos os componentes da THKAFO, permite o avanço do membro simplesmente com a descarga de peso do corpo sobre o lado contralateral. Em outras palavras, à medida que se estende um quadril, o quadril colateral automaticamente entra em flexão. Características: Tornozelos rígidos, hastes laterais rígidas. Indicações: pacientes com paraplegia, como sequela de Lesão Medular e Mielomeningocele.

As órteses acima são aquelas mais utilizadas dentro da reabilitação em neurofuncionalMas, independentemente do tipo de órtese a ser indicada, a prescrição pelo profissional deve estar correta e adequada e a órtese, bem feita pelo técnico ortesista para que, dessa forma, o uso e adaptação sejam mais simples e o processo de reabilitação tenha maior chance de sucesso.

 

Por Adriana de Freitas Sciammarella Carneiro
Fisioterapeuta da Profísio (Hospital de Reabilitação), Especialista em Fisioterapia Hospitalar pela UNIANDRADE-PR, MBA em Auditoria de Serviços de Saúde pelo IBPEX, Especialista em Osteopatia pelo CBES, Experiência em Órteses/Próteses/Meios Auxiliares de Locomoção.

 

Referência Bibliográfica

Avaliação do paciente com Parkinson

A Doença de Parkinson (DP) é progressiva e neurodegenerativa, incapacitando o indivíduo em grande parte das AVD’s e também em suas funções cognitivas, conforme a doença vai avançando. Os sintomas motores envolvem tremor, bradicinesia, rigidez e instabilidade postural¹. Dentro das incapacidades adquiridas, existem avaliações específicas para mensurar o grau de comprometimento de cada paciente.

O tremor e a bradicinesia geralmente são causados por diminuição da função dos neurônios dopaminérgicos e geram dificuldades na execução de diversas atividades, como alimentação e auto-cuidados. Sua influência nas atividades pode ser avaliada por meio da escala UPDRS (Unified Parkinson’s Disease Rating Scale)²

A bradicinesia é o principal sintoma da DP e geralmente é acompanhada pela diminuição de força muscular, o que aumenta as chances de queda. Quando associada à instabilidade postural, dificulta a pessoa com DP a deambular sem supervisão ou sem meio auxiliar de deambulação.
Alguns testes já validados para DP são utilizados para avaliar a mobilidade funcional, como TUG (Time Up and Go)³ e o equilíbrio estático e dinâmico, como mini BESTest (Balance Evaluation Systems Test)4. O TUG ainda pode ser associado à dupla tarefa cognitiva ou motora, o que confere maior relevância clínica para um teste relativamente fácil de ser executado. Caso seja percebido a necessidade de avaliação específica das capacidades cognitivas, o MoCA (Montreal Cognitive Assessment) poderá ser utilizado5.

A diminuição de força também aumenta os riscos de doenças respiratórias pela fraqueza do músculo diafragma e dos intercostais, e a espirometria entra em cena para avaliar a pressão inspiratória máxima (PImáx) e pressão expiratória máxima (PEmáx) que tem valores de referências padrão para homens e mulheres hígidos e variando com a idade6. Essas pressões avaliadas irão demonstrar o nível de capacidade de força dos músculos inspiratórios e expiratórios, respectivamente, permitindo ao profissional identificar o nível de intervenção terapêutica para cada paciente.
Por fim, uma opção para avaliação de qualidade de vida e vida comunitária é o PDQ-39 (Parkinson’s Disease Questionnaire-39)7, lembrando sempre que a funcionalidade é proporcional a qualidade de vida.

É importante ter em mente que independentemente da predominância do sintoma, a avaliação sempre guiará a intervenção. Com relação ao tratamento, além da parte medicamentosa, estudos vigentes buscam utilizar atividades físicas para aumentar as opções terapêuticas e, neste sentido, a Fisioterapia se torna fundamental.

 

Por Francielle Costa Valle
Pós graduada em Terapia Intensiva – Faculdade Inspirar;
Pós graduanda em Fisioterapia Neurofuncional – Faculdade Inspirar;
Fisioterapeuta na empresa Prófisio.

Referências

1. Postuma, et al. MDS Clinical Diagnostic Criteria for Parkinson’s Disease. MovementDisorders, Vol. 30, No. 12, 2015
2. Goetz, et al. Movement Disorder Society-sponsored revision of the Unified Parkinson’s Disease Rating Scale (MDS –UPDRS): Scale presentation and Clinimetric Testing Results. Mov Disord. 2008 Nov 15;23(15):2129-70.
3. Brusse, et al. Testing Functional Performance in People with Parkinson Disease. Phys Ther. 2005 Feb;85(2):134-41.
4. Leddy, et al. Utility of the Mini-BEST Test, BEST-test and BEST-test Sections for Balance Assessments in Individuals With Parkinson Disease. J Neurol Phys Ther. 2011 Jun;35(2):90-7.
5. Sobreira, Emmanuelle. et al. Rastreio de comprometimento cognitivo em pacientes com doença de Parkinson: validade diagnóstica das versões brasileiras da Montreal Cognitive Assessment e do Addenbrooke’s Cognitive Examination-Revised. Arq. Neuro-Psiquiatr. [online]. 2015, vol.73, n.11, pp.929-933.
6. Pereira, et al. New reference values for forced spirometry in white adults in Brazil. Jornal Brasileiro de Pneumologia. 2006.
7. Fitzpatrick, et al. Distribution- based Criteria for Chance in Health-Related Quality of Life in Parkinson’s Disease. J Clin Epidemiol. 2004 Jan; 57 (1) 40-4.

Esclerose Lateral Amiotrófica e a Fisioterapia

A esclerose lateral amiotrófica (ELA) é uma doença neurodegenerativa de caráter progressivo do sistema nervoso central, tendo sua ação nos motoneuronios superiores e inferiores e evolui causando atrofia progressiva da musculatura respiratória e dos membros, podendo estar ou não associada de sintomas de origem bulbar como disartria e disfagia. Apesar de os portadores dessa doença terem uma sobrevida media de 2 a 5 anos, já se tem relatos de grupos de pacientes com mais de 1 década de evolução.

O tratamento desses pacientes tem por finalidade contribuir na melhora da qualidade de vida, para isto, exigi-se uma atenção multidisciplinar eficaz, onde a fisioterapia esta impreterivelmente inserida e se manterá presente e atuante durante todo o processo de evolução da doença, tendo sua conduta principalmente baseada no quadro clinico atual do paciente e na prevenção ou tardeamento de complicações futuras.

O tratamento fisioterapêutico dos portadores de ELA visa a manutenção da amplitude de movimento, manutenção do tônus muscular ainda existente objetivando a prevenção de complicações decorrentes do desuso e da lesão propriamente dita, evitando ainda possíveis quadros álgicos e edemas. A prevenção de complicações respiratórias deve estar associada ao programa de tratamento estabelecido para o paciente, tendo em vista a prevenção de áreas de atelectasias, de hipoventilação e hipóxia, para tanto os exercícios respiratórios reexpansivos devem estar associados a terapia.

A utilização de recursos auxiliares tais como órteses, tornozeleiras, antiequino, andadores, talas, podem se fazer necessários conforme a progressão da doença como plano para otimizar a realização das atividades de vida diária. A ventilação mecânica não invasiva e por conseguinte invasiva também tornar-se-á necessária nas fases mais críticas da doença.

Por fim, enfrentar um prognóstico de morte acarreta ao paciente um turbilhão de emoções e sentimentos que pode ocasionar dentre outras complicações a depressão, que por sua vez poderá acelerar o processo de evolução da doença. Portanto o apoio familiar e de toda equipe multiprofissional se faz necessário para uma melhor adesão ao tratamento e consequentemente o adiamento dos sintomas.

 

Por Francielen Stedile
Graduação em Fisioterapia Hospitalar
Pós graduada em Fisioterapia Neurofuncional e Dermato funcional.
Fisioterapeuta sócia na empresa PROINC.

Bruna Marques da Silva
Pós graduada em Fisioterapia Cardiorrespiratória e graduanda em Fisioterapia Neurofuncional
Fisioterapeuta na empresa PROINC.

Mariane Dorea
Pós graduada em Terapia Intensiva
Fisioterapeuta na empresa PROINC

 

Referência:

https://periodicos.unifesp.br/index.php/neurociencias/article/view/8505

Revista Neurociências V14 N2 (supl-versão eletrônica)

Indicadores da Qualidade

Indicadores da Qualidade

Como outras profissões da saúde, a fisioterapia deve passar do atendimento baseado em quantidade ou modelo de taxa por serviço para o atendimento baseado em qualidade.

Para auxiliar nesta transição os indicadores de qualidade (IQs) podem ser utilizados como ferramentas que especificam o padrão mínimo aceitável de prática clínica. Eles são usados para medir processos de cuidados em saúde, estruturas organizacionais e resultados relacionados a aspectos de atendimento de alta qualidade aos pacientes.

Devem ser utilizados para orientar a tomada de decisões clínicas, implementar recomendações, avaliar e relatar a eficácia do tratamento às principais partes interessadas, incluindo gestores e pacientes.

São primordiais para os gestores, pois permitem a avaliação e o monitoramento de lacunas relacionadas às estruturas (por exemplo, número de profissionais, disponibilidade de equipamento), processos (por exemplo, adesão às melhores práticas de reabilitação, entrega serviços) ou resultados (por exemplo, status funcional, qualidade de vida, mortalidade) do atendimento além de ser considerado um produto terciário do conhecimento. que ajuda a mobilizar outros produtos, isto é, diretrizes e recomendações para a prática e avaliação do impacto de sua implementação.

O envolvimento do fisioterapeuta no desenvolvimento dos IQs específicos da reabilitação é imprescindível. Para que os fisioterapeutas participem, eles devem ter um entendimento do processo.

As principais etapas no desenvolvimento e implementação dos IQs serão definindo o público-alvo; determinação da área clínica a avaliar; identificar IQs existentes ou, na sua ausência, desenvolver e avaliar os IQs existentes ou novos; coletando e relatando dados.

Para que os fisioterapeutas participem dos esforços para aplicação dos IQs específicos da reabilitação e da equipe, eles devem entender o valor e o papel destes na prestação de cuidados de saúde e estar familiarizados com os métodos usados para desenvolver ou identificar, coletar, relatar e implementar estes IQs.

Os fisioterapeutas devem ser incentivados a contribuir para a identificação e implementação dos IQs em seus ambientes clínicos ou organizações de assistência à saúde para garantir que as medidas selecionadas sejam relevantes, viáveis, clinicamente significativas e sob seu controle.

Algumas barreiras ainda são identificadas para implementação dos IQs , no aspecto de atendimento incluem restrições de tempo, acesso limitado aos IQs apropriados, falta de conhecimento e ferramentas para a aplicação de medidas, suporte limitado à gerência e falta de valor e importância aos resultados.

É preciso mensurar, avaliar e gerar valor, mas não podemos esquecer que o paciente é um ser humano, que quando adoecido está debilitado e sofrendo. Eles são a razão da existência das organizações de saúde, sendo imprescindível que ele seja acolhido, compreendido e tratado.

Por Maíra Maturana
Doutoranda em Ciências da Reabilitação pela Unisuam
Mestre em fisiologia
Docente na Faculdade Inspirar
Fisioterapeuta/Sócia Diretora da Profisio – unidade INC
Sócia Diretora da Faculdade Inspirar Campinas

Leia mais em : https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4706598/
Marie D. Westby, Alexandria Klemm, Linda C. Li, C. Allyson Jones. Emerging Role of Quality Indicators in Physical Therapist Practice and Health Service Delivery. Phys Ther. 2016 Jan; 96(1): 90–100.

Poltrona PVC

Durante muito tempo o repouso absoluto no leito foi preconizado como imprescindível no tratamento de pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). No entanto, nas últimas décadas, constatou-se que a imobilidade no leito é um fator que leva ao retardo da recuperação desses pacientes.

Quanto mais tempo imóvel no leito, maiores as complicações que o paciente pode apresentar, tais como: perda da força muscular e consequentemente perda da sua funcionalidade, déficit da mecânica respiratória, complicações hemodinâmicas, cardíacas e neurológicas, úlceras de pressão, atraso na recuperação das doenças críticas, aumento do tempo de internação e redução da qualidade de vida do paciente pós alta.

A fisioterapia atua promovendo a recuperação e preservação da funcionalidade, exercendo papel fundamental tanto na prevenção quanto no tratamento destas complicações.

A mobilização precoce (MP) surge como intervenção fisioterapêutica de prática cada vez mais comum nas UTIs, a qual se refere a execução do exercício físico ou a mobilização do paciente dentro da fase inicial da doença, tendo seu início logo após a estabilização do paciente sempre respeitando as individualidades e as condições clínicas de cada indivíduo

A transferência do paciente para a cadeira é adotada como rotina por muitas equipes de saúde. Mesmo que feita de maneira passiva e com o paciente ainda em ventilação mecânica, a posição sentada pode trazer uma série de benefícios, como: uma maior estimulação sensório-motora, melhora da consciência corporal, melhora do estímulo respiratório e da mecânica ventilatória, aumento dos volumes e capacidades pulmonares, da ventilação alveolar e da eficiência da tosse, desde que o paciente não apresente contraindicações.

Quando não existem poltronas suficientes disponíveis ou até mesmo diante da impossibilidade de transferência do paciente para poltrona,  devemos encontrar soluções para que os benefícios da posição sentada sejam alcançados.

 

Com muita criatividade e dedicação nosso fisioterapeuta Dr. Cairo Sackl Poffo aprimorou a ideia de uma “poltrona” feita em PVC que se adapta a cama do paciente, muito prático e de baixo custo esse artefato permite que pacientes com pouco ou nenhum controle de tronco permaneçam sentados na beira do leito e até mesmo realizem exercícios com maior segurança na posição sentada.

 

Por Cairo Sackl Poffo
Fisioterapeuta pela Universidade Regional de Blumenau – FURB – SC
Pós-graduando em Fisioterapia em Unidade de Terapia Intensiva pela Faculdade Inspirar – SC
Fisioterapeuta Coordenador do Serviço de Fisioterapia Prófisio Litoral – Hospital do Coração de Balneário Camboriú

REFERÊNCIAS:

BAILEY, P. P.; ILL, R. R. M.; CLEMMER, T. P. Culture of early mobility in mechanically ventilated patients. Critical Care Medicine, v. 37, n. 10, p. 429-435, 2009.

CHOI, J.; TASOTA, F. J.; HOFFMAN, L. A. Mobility Interventions to Improve Outcomes in Patients. Biological Research For Nursin, v. I, n. 10, p. 21-33, 2008.

COSTA, F. M. D. et al. Avaliação da Funcionalidade Motora em Pacientes com Tempo Prolongado de Internação. UNOPAR Científica Ciências Biológicas e da Saúde, Cuiabá, 2014. 87-91.

DESAI, S. V.; LAW, T. J.; NEEDHAM, D. M. N. Long-term complications of critical care. Critical Medicine Care, v. 39, n. 2, p. 371-379, 2011

FRANÇA, E. É. T. et al. Fisioterapia em pacientes críticos adultos: recomendações do Departamento de Fisioterapia da Associação de Medicina Intensiva Brasileira. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, São Paulo, v. 24, p. 6-22, 2012.

HICKMANN, C. E. et al. Teamwork enables high level of early mobilization in critically ill patients. Annals of Intensive Care, v. VI, n. 80, 2016. KRAMER, C. L. Intensive Care Unit: Acquired Weakness. Neurologia Clínica , n. 35, p. 723- 736, 2017.

MUSSALEM, M. A. M. et al. Influência da mobilização precoce na força muscular periférica em pacientes na Unidade Coronariana. ASSOBRAFIR Ciência, Pernanbuco, 5 Abril 2014. 77- 88.

PRESTO, B. L. V.; DAMÁZIO, L. Fisioterapia Respiratória. 4a. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.

SILVA, A. P. P. D.; MAYNARD, K.; CRUZ, M. R. D. Efeitos da fisioterapia motora em pacientes críticos: revisão de literatura. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, Rio de Janeiro -RJ, n. 22, p. 85-91, 2010.

Atuação da fisioterapia na artroplastia de quadril

As funções do quadril são de extrema importância para a independência de um indivíduo, pois sustenta o peso corporal e gera grande amplitude de movimento para a locomoção e realização de atividades.

O quadril é uma articulação diartrose do tipo esferoidal multiaxial e possui estabilidade máxima pelo encaixe da cabeça do fêmur com o acetábulo. Além disso, absorve grandes cargas e impacto no decorrer da vida.

Com o envelhecimento, o quadril pode sofrer diversas afecções e comprometer funcionalmente essa articulação. Uma delas é a osteoartrose (OA), a qual se caracteriza-se como uma doença de etiologia multifatorial, sendo uma injúria dolorosa das articulações proveniente da deficiência da cartilagem associada à sobrecarga mecânica, alterações bioquímicas da membrana sinovial ou de fatores genéticos.

A OA de quadril atinge 20% das pessoas com idade acima de 55 anos e, apesar de ser menos comum do que a OA de joelho, sua sintomatologia é frequentemente mais grave, pois leva a consequências que excedem a degeneração da cartilagem, estando diretamente relacionada com dor, rigidez articular e disfunção muscular.

O tratamento da osteoartrose tem como objetivo principal combater a sintomatologia, aliviar a dor, restabelecer a melhora funcional, mecânica e clínica dos pacientes acometidos, optando-se inicialmente pelo tratamento conservador através de medicamentos e fisioterapia. Em casos de falha no tratamento conservador é indicado tratamento cirúrgico através da artroplastia.

A artroplastia de quadril consiste na reconstrução da articulação do quadril através da colocação de uma prótese total ou parcial devido à degeneração ou desgaste dessa articulação. É um método cirúrgico que visa restaurar a funcionalidade da articulação acometida, visando a melhora da dor e o retorno às funções.

As próteses podem ser feitas de diversos materiais como metal, cerâmica, titânio e polietileno, podendo a artroplastia ser total, quando ocorre a substituição do componente acetabular e femoral ou parcial, quando apenas o componente femoral é substituído.

Tipos de Prótese:

  • Cimentada – em que se usa cimento ósseo para fixar o componente acetabular na pelve e o componente femoral no fêmur.
  • Não-cimentada – a fixação de seus dois componentes (acetabular e femoral) ocorre diretamente nas superfícies ósseas.
  • Híbrida – o componente acetabular é fixado na pelve através de parafusos e o componente femoral é fixado com cimento ao fêmur.
  • Endopróteses – consiste na substituição de grandes segmentos ósseos.

 

As cirurgias na articulação do quadril estão entre as principais executadas na ortopedia e muitas formas de acessos foram descritas para a realização da artroplastia de quadril, sendo os mais comuns: acesso ântero-lateral, acesso lateral e acesso póstero-lateral.

O tipo de prótese, material, bem como a via de acesso escolhida são avaliados pelo cirurgião de quadril, que vai optar levando em consideração as particularidades de cada paciente.

A fisioterapia é um procedimento fundamental na reabilitação de pacientes pós artroplastia de quadril e deve ser iniciada precocemente após a cirurgia. A atuação inicial, na fase hospitalar, consiste em retirar o paciente do leito o mais breve possível, orientar quanto aos cuidados no pós-operatório, restabelecer amplitude de movimentos e força muscular, reduzir co-morbidades, prevenir complicações motoras e respiratórias, recuperar o equilíbrio e a marcha, facilitar a retomada de confiança e segurança do paciente e reduzir o tempo de internação.

As atividades incluem exercícios respiratórios; promoção de integração sensório-motora e cognitiva; mobilização dos membros inferiores (MMII); isometrias de quadríceps e glúteos; profilaxia circulatória; posicionamento dos MMII em abdução e treino de marcha com andador.

O fisioterapeuta deve enfatizar ao paciente os cuidados com movimentos que podem facilitar o mecanismo de luxação de prótese e portanto devem ser evitados, como a rotação interna do quadril, adução além da linha média,  e flexão do quadril acima de 90º.

Algumas complicações podem ocorrer após a cirurgia de artroplastia de quadril. Elas podem ser de origem ósteo-articular (fratura do fêmur, luxação da prótese), neurológica (neuropraxia, axoniotmese, neurotmese), circulatória (tromboembolismo venoso) ou secundárias a infecções.

Realizar um bom tratamento fisioterapêutico no pós-operatório é fundamental para a recuperação total do indivíduo, proporcionando sua independência, retorno às atividades e melhora da qualidade de vida.

 

Por Maria Eduarda N A Cocchieri

Fisioterapeuta pela Universidade de Vila Velha – ES
Especialista em Fisioterapia Hospitalar pela Faculdade Inspirar – PR
Fisioterapeuta Coordenadora do Serviço de Fisioterapia Prófisio – Unidade de Internamento do Hospital Marcelino Champagnat
Prática clínica em pós-operatório das artroplastias de quadril e de joelho
Docente Faculdade Inspirar

Referências

  • APRILE, I., et al. Group rehabilitation versus individual rehabilitation following knee and hip replacement: a pilot study with randomized, single-blind, cross-over design. European Journal of Physical and Rehabilitation Medicine. v.47, n.4, p.551-559, 2011.
  • COIMBRA, I.B. et al. Osteoartrite (Artrose): Tratamento. Revista Brasileira de Reumatologia. v. 44, n.6, p. 450-453, 2004.
  • DUARTE, V. et al. Exercícios físicos e osteoartrose: uma revisão sistemática. Fisioterapia em Movimento. v. 26, n. 1, p.193-202, 2013.
  • FIORENTIN, P. et al. Evidências científicas do tratamento fisioterapêutico no pós-operatório de artroplastia de quadril. Biomotriz, v.10, n. 01, p. 104 – 118, Jul./2016.
  • RISSI e COIMBRA. Exercício Físico como Tratamento na Osteoartrite de Quadril: uma Revisão de Ensaios Clínicos Aleatórios Controlados. Rev Bras Reumatol, v. 46, n.4, p. 273-280, jul/ago, 2006

Espirometria

A espirometria ou também conhecida prova de função pulmonar é um exame que permite avaliar a função respiratória através da quantificação dos volumes respiratórios, fluxo e tempo, isto é possível através da mensuração do ar que entra e sai dos pulmões.

É um teste rápido, indolor, capaz de indicar “doenças pulmonares silenciosas” sendo indicado de forma preventiva na medicina ocupacional em exames admissionais e periódicos, possibilitando diagnósticos precoces em pacientes assintomáticos, como por exemplo um distúrbio ventilatório restritivo em pacientes obesos ou distúrbio ventilatório obstrutivo em pacientes fumantes que não apresentam nenhum sintoma inicial, essencial no acompanhamento dos pacientes asmáticos, DPOC, pré e pós operatórios em geral.

Além dos diagnósticos clínicos utilizados pelo médico, como já citados, a espirometria é uma ferramenta utilizada pelo fisioterapeuta no diagnostico cinesiofuncional, possibilitando estratégias e objetivos de reabilitação a curto, médio e longo prazo, também utilizada como biofeedback visual durante a sessão de treinamento funcional respiratório, possibilitando aos pacientes um melhor aprendizado e evoluções diárias das técnicas utilizadas.

A excelência do teste demanda uma boa técnica de comunicação do profissional e da colaboração do paciente, apesar de ser um exame simples que consiste basicamente em puxar e soltar o ar de forma rápida e continua por um bocal conectado em uma aparelho, a literatura nos mostra que em média 70% dos técnicos no Brasil realizam de forma errada, isso pode estar correlacionado ao fato de muitos dos técnicos receberem o treinamento rápido e sem acompanhamento dos próprios profissionais que solicitam.

Este impacto poderia ser diminuído se fosse realizado por fisioterapeutas uma vez que os mesmos detêm conhecimentos de técnicas que podem facilitar a compreensão do sopro forçado e continuo dento dos padrões anatômicos e fisiológicos da função pulmonar.

É importante salientar que a manobra leva o paciente aos dois extremos, uma inspiração máxima total  ( VC = volume corrente +  VRI = volume de reserva inspiratória ) seguida de uma expiração máxima forçada (VRE = volume de reserva expiratória), a falha no comando em qualquer uma das duas fases podem resultar em valores abaixo da normalidade e induzir a um falso teste.

Ao observar o gráfico abaixo e analisar o quanto representa percentualmente cada fase do ciclo respiratório, aceitar que o paciente ou o técnico realizem de forma errônea uma delas, é a certeza de um resultado errado.

INTERPRETAÇÃO DO RESULTADO

Os valores da espirometria variam de acordo com peso, idade, altura, sexo, biotipo da pessoa, por esse motivo os dados antropométricos devem ser sempre checados no momento do exame.

A espirometria simples ou ocupacional é realizada sem uso de agentes broncodilatadores, já as provas de funções pulmonares levam a aplicação dos broncodilatadores.

O laudo de diagnósticos clínicos devem sempre ser interpretados pelo médico, já os diagnósticos cinesiofuncinais pelo fisioterapeuta. A interpretação deve levar em consideração tantos os valores de cada parâmetro em percentual e as curvas fluxo-volume e volume-tempo, também é importante classificar a gravidade que pode ir de leve a gravíssima.

  • Volume Expiratório Forçado (VEF1): representa a quantidade de ar expirado no primeiro segundo, e por isso, quando está abaixo dos valores de normalidade pode indicar presença de distúrbios obstrutivos.
  • Capacidade vital forçada (CVF): representa a quantidade total de ar que se consegue expirar, quando está abaixo dos valores de normalidade pode sugerir a presença de doenças pulmonares que dificultam a expansão do pulmão, com possíveis distúrbios restritivos.

 

Abaixo um exemplo da curva de Distúrbio Obstrutivo.

 

A seguir um exemplo da curva de um laudo normal.

 

 

Por Flávia Makoski Ciescilivski

Fisioterapeuta Especialista em Terapia Intensiva e Fisioterapia Uroginecologia, Proctologia e Disfunções Sexuais
Gestora Administrativa da Franquia Prófisio no Hospital Marcelino Champagnat – Curitiba – Fisioterapeuta atuante junto a equipe do Check-up (Avaliação Funcional Fisioterapêutica e Testes de Função Pulmonar).
Professora e Coordenadora adjunta da Faculdade Inspirar do Curso de Pós Graduação de Fisioterapia Pélvica – Anápolis / Goiás
Mestranda pela UFPR/Faculdade Inspirar – Clínica Cirúrgica

 

REFERÊNCIAS

  • Costa, D. e Jarnarni, M. BASES FUNDAMENTAIS DA ESPIROMETRIA. Rev. bras. fisioter. Vol. 5 No. 2 (2001), 95-102.

Escalas de avaliação da qualidade de sono em pacientes críticos – uma ferramenta para a melhoria no cuidado

O sono é um processo essencial para o descanso, reparação, bem estar, preservação da homeostase e equilíbrio de diferentes sistemas corporais.

Consistindo em um processo ativo que envolve múltiplos e complexos mecanismos fisiológicos e comportamentais do sistema nervoso central (SNC).

É regulado por mecanismos cicardianos, ou seja, um ciclo de 24 horas sobre o qual se baseia o “relógio biológico” de quase todos os seres vivos.

Este ciclo tende a ser sincronizado com as 24 horas do dia por estímulos, predominantemente, pela exposição a luminosidade.

O sono do paciente crítico é um assunto de crescente interesse, e diversos estudos apontam que o sono na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é caracterizado pela sua baixa qualidade, contribuindo para a morbidade destes pacientes.

Dentre as causas de privação de sono na UTI estão fatores intrínsecos aos pacientes e a condição de sua doença, bem como fatores relacionados ao ambiente da UTI e ao tratamento em curso, como o suporte ventilatório, a terapia medicamentosa, os cuidados da equipe de multidisciplinar, os ruídos de monitores e a luminosidade do ambiente.

 

 

A polisonografia (PSG), exame padrão ouro para avaliar alterações do sono, demonstrou que estes distúrbios são caracterizados por fragmentação do sono, com despertar frequente.

A arquitetura do sono sofre maior alteração nos períodos iniciais do sono gerando também na redução na porcentagem de sono profundo e reparador.

Por outro lado, a aplicação de questionários para avaliar subjetivamente o sono de pacientes internados em UTI vem ganhando destaques na literatura, de fácil aplicação às escalas podem ser utilizadas por qualquer profissional da saúde.

O Richards – Campbell Questionnaire (RCSQ) que avalia o sono a partir de 5 dimensões: profundidade, latência, fragmentação, tempo para retomada e qualidade do sono.

As respostas são registradas em uma escala analógica visual de 100mm, onde resultados mais altos representam um sono de maior qualidade.

Já o Índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh (PSQI) avalia a qualidade do sono através de 19 questões de auto-relato graduados com score de 0 (nenhuma dificuldade) a três (dificuldade grave).

A Sleep in the Intensive Care Unit Questionnaire, com 27 itens, avalia o sono em 4 dimensões: qualidade; fatores disruptivos causados pela equipe de cuidados; fatores disruptivos de origem ambiental e sonolência diurna.

A possibilidade de pontuar individualmente o papel de uma série de perturbações do sono decorrentes do ambiente de UTI torna estes questionários uma ferramenta que auxilia os profissionais da saúde a identificar, corrigir e avaliar a eficácia das intervenções, promovendo melhorias na qualidade de sono do paciente crítico e atuando diretamente em sua recuperação.

 

Por Luana Caroline Kmita
Graduada em Fisioterapia pela Uniguaçu
Pós graduada em Terapia Intensiva pela Faculdade Inspirar
Mestre em Fisiologia Humana pela UFPR – laboratório de neurofisiologia, ênfase em distúrbios de sono na doença de Parkinson.
Fisioterapeuta Intensivista Prófisio – Hospital Vita Batel.

 

Referências

  • Beltrami FG et al. Sono na Unidade de Terapia Intensiva. J Bras Pneumol. 2015;41(6):539-546.
  • Bourne RS et al. Clinical review: Sleep measurement in critical care patients: research and clinical implications. Critical Care200711:226
  • Hamze FL; Souza CC; ChiancaTCM. Influência das intervenções assistenciais na continuidade do sono de pacientes em unidade de terapia intensivaRev. Latino-Am. Enfermagem set.-out. 2015;23(5):789-96
  • Orwelius L et al. Prevalence of sleep disturbances and long-term reduced health-related quality of life after critical care: a prospective multicenter cohort study. Critical Care200812:R97
  • Togeiro SMGP; Smith AK. Diagnostics methods for sleep disorders. Rev Bras Psiquiatr. 2005;27(Supl I):8-15
  • Araujo, PAB et al. Índice da qualidade de sono de Pittsburgh para uso na reabilitação cardiopulmonar e metabólica. Rev Bras Med Esporte – Vol. 21, No 6 – Nov/Dez, 2015

Fisioterapia na prevenção do tromboembolismo venoso

O Tromboembolismo Venoso (TEV), consiste na formação de um coágulo sanguíneo (trombo), geralmente originado nos membros inferiores.

Pode ser apresentado em duas formas mais frequentes:

  • a trombose venosa profunda (TVP) – quando o coágulo formado obstrui a passagem sanguínea em veias dos membros inferiores;
  • o tromboembolismo pulmonar (TEP), quando o coágulo sanguíneo se desloca e obstrui algum ponto do leito vascular pulmonar, geralmente acarretando insuficiência respiratória aguda.

Uma terceira forma e menos frequente de apresentação é a trombose venosa superficial.

A tríade de Virchow considera como fatores de desenvolvimento de tromboses os seguintes aspectos: estase sanguínea, lesão endotelial e a hipercoagulabilidade sanguínea.

Para a prevenção dessa afecção é necessário atuar diretamente combatendo esses três fatores.

A fisioterapia atua diretamente na prevenção e/ou minimização de estase sanguínea, além de participar ativamente no processo educacional destinado aos pacientes e familiares envolvidos no tratamento.

A TEV é a primeira causa de morte evitável em pacientes no ambiente hospitalar.

Todos os pacientes internados, sejam esses, clínicos ou cirúrgicos devem ser avaliados quanto a presença ou não de fatores de risco para o desenvolvimento do tromboembolismo.

Perante pacientes cirúrgicos, deve-se verificar o risco específico da cirurgia e o tipo de anestesia.

Pacientes submetidos à neurocirurgia e cirurgias cardíacas exigem medidas de prevenção diferenciadas, pelo risco de sangramento durante as mesmas.

Ao se tratar de saúde materna, existe um alto índice de tromboembolismo venoso durante a gestação, parto e puerpério, principalmente quando são submetidas a via de parto cesárea.

E em especial no Brasil, onde acontece o maior número de cesáreas no mundo. Sendo a embolia pulmonar associada a gravidez, a maior causa de morbidade e mortalidade em gestantes. 3 a cada 1000 gestações são verificados casos de TVP ou TEP.

A prevenção eficaz para eventos de tromboembolismo venoso consiste em uma avaliação multiprofissional efetiva e competente.

A avaliação consiste na estratificação de fatores de risco para o desenvolvimento da afecção sanguínea estudada. Esta deve acontecer até 24 horas após o horário da internação –  e o paciente deve ser reavaliado diariamente.

Em pacientes cirúrgicos, quando possível, deve ser realizada uma pré-avaliação, que será encaminhada junto ao paciente para o centro cirúrgico, anexada ao planejamento da cirurgia.

Chama atenção a incidência de pacientes oncológicos apresentarem maior incidência de eventos tromboembolíticos. Estudos apontam que 1 a cada 5 pacientes com câncer desenvolvem TEV.

É a segunda causa de morte mais comum entre esses pacientes, eles poderiam sobreviver mais tempo se não fosse a TEV. A correlação entre câncer e tromboembolia leva em consideração o local da tumoração, o estadiamento da doença, dentre outros.

É comum de a TEV ser a primeira manifestação de doença neoplásica. Sendo denominada Síndrome de Trousseau – o tromboembolismo espontâneo associado a uma neoplasia silenciosa.

Estudos apontam que o câncer aumenta em quatro vezes a chance de o paciente desenvolver TEV; a quimioterapia aumenta esse risco para seis vezes. Mesmo quando estão com dosagem de anticoagulação completa.

Pacientes oncológicos que desenvolvem TEV tem um risco de 94% de evoluir a óbito até os 06 meses depois do episódio. Células neoplásicas podem ativar mecanismo de coagulação por diferentes meios.

Durante a estratificação dos pacientes quanto ao risco de desenvolverem TEV, esses são classificados em baixo, intermediário e alto risco – e diversos fatores são abordados.

A estratificação de risco pode ser realizada através de escalas ou escores. Os mais utilizados para a TEV são o Escore de Caprini (pacientes cirúrgicos) e Escore de Pádua (pacientes clínicos).

 

 

 

O profissional fisioterapeuta atua de forma contínua, estabelece protocolos e metas assistenciais, realiza avaliação funcional periódica dos pacientes, estimula mobilização precoce, movimentos passivos, realiza atividades diárias de reabilitação, orientações de posicionamento dos membros, profilaxia circulatória, estabelece frequência e distância de caminhadas, supervisiona e elabora diário de caminhada.

Vale salientar que o fisioterapeuta busca todas as medidas necessárias para a profilaxia da perda da funcionalidade e/ou estimulação da mesma, sempre visando a melhora da qualidade do internamento e da qualidade de vida.

 

Por Rosilene de Santana Sanches

Fisioterapeuta pela Universidade Tiradentes. Pós-graduação em cardiorrespiratória pela Faculdade Inspirar. Formação em Pilates pela Physioserv. Experiência em docência e coordenação em curso de Fisioterapia. Atualmente Fisioterapeuta no Hospital Marcelino Champagnat.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • Mechanisms of venous thromboembolism in cancer: a literature review Mecanismos do tromboembolismo venoso no câncer: uma revisão da literatura. Marcos José Pereira Renni1 , Mônica Hermida Cerqueira2 , Ingrid de Araújo Trugilho1 , Mario Lúcio Cordeiro Araujo Junior1 , Marcos Arêas Marques3 , Hilton Augusto Koch4  J Vasc Bras. 2017 Out ut.-Dez.; 16(4):308-313
  • Estudo TRomboEmbolismo Venoso pós-Operatório (TREVO) — risco e mortalidade por especialidade cirúrgica. Cristina Amaral a,∗, Luís Guimarães Pereiraa, Ana Moretoa, Ana Carolina Sáa, Ana Azevedo. 2017 Sociedade Portuguesa de Cardiologia. Publicado por Elsevier Espana, ˜ S.L.U. Todos os direitos reservados.
  • Venous Thromboembolism and Route of Delivery – Review of the Literature, Matheus Schimidt Evangelista1 Karina Slompo1 Jorge Rufino Ribas Timi2, Rev Bras Ginecol Obstet, December 12, 2017
  • Incidencia y factores de riesgo de enfermedad tromboembólica venosa en cirugía mayor espinal, sin profilaxis química o mecánica
  • Rojas-Tomba ∗, I. Gormaz-Talavera, I.E. Menéndez-Quintanilla, J. Moriel-Durán, D. García de Quevedo-Puerta y F. Villanueva-Pareja. Servicio de Cirugía Ortopédica y Traumatología, Hospital Regional Universitario de Málaga, Málaga, Espana˜ Recibido el 24 de junio de 2015; aceptado el 19 de octubre de 2015 Disponible en Internet el 13 de enero de 2016
  • Do we know how to prescribe venous thromboembolism prophylaxis to hospitalized patients? Sabemos prescrever profilaxia de tromboembolismo venoso nos pacientes internados? Bruno Abdala Candido Lopes1 *, Isabela Pizzatto Teixeira1 , Taynara Dantas de Souza1 , Jean Rodrigo Tafarel1,  J Vasc Bras. 2017 Jul-Set;16(3):199-204
  • Quali prospettive nel trattamento del tromboembolismo venoso dopo i risultati dello studio Hokusai-VTE Cancer?Iris Parrini1, Irma Bisceglia2 1Cardiologia, Ospedale Mauriziano, Torino 2Percorsi Cardiologici Integrati, A.O. San Camillo-Forlanini, Roma, G Ital Cardiol 2018;19(6):333-338
  • PROTOCOLO TEV: Tromboembolismo Venoso Documentação Operacional HSL-PROT-CORP-006/REV.09. Protocolo do Hospital Sírio Libanês. Versão online disponível em : https://www.hospitalsiriolibanes.org.br/institucional/gestao-da-qualidade/Documents/2018-11-01-protocolos/Protocolo%20TEV/Protocolo%20TEV_VF.pdf
  • Incidência de trombose venosa profunda e estratificação dos grupos de risco em serviço de cirurgia vascular de hospital universitário Incidence of deep venous thrombosis and stratification of risk groups in a university hospital vascular surgery unit. Alberto Okuhara1 *, Túlio Pinho Navarro1 , Ricardo Jayme Procópio1 , José Oyama Moura de Leite2 J Vasc Bras. 2015 Abr.-Jun.; 14(2):139-144
  • Avaliação da profilaxia da trombose venosa profunda em um hospital geral Evaluation of deep vein thrombosis prophylaxis in a general hospital. Fátima Cristiane Lopes Goularte Farhat1 , Hellen Caroliny Torres Gregório2 , Rafaela Durrer Parolina de Carvalho3/J Vasc Bras. 2018 Jul.-Set.;17(3):184-192

Os benefícios da fisioterapia ao ar livre para pacientes hospitalizados

Além de todos os benefícios já conhecidos da prática de atividade física por si só, a Ciência também comprovou que a exposição a espaços verdes durante a prática de atividades físicas confere benefícios significativos para a saúde, especialmente no que se refere à função cerebral e à saúde mental.

Pesquisadores da Universidade de Essex, na Inglaterra, fizeram estudos com mais de 1000 pessoas e concluíram que aquelas que faziam exercícios ao ar livre apresentavam melhoras no humor e na autoestima.

Segundo os pesquisadores, apenas 5 minutos se exercitando em áreas verdes já são suficientes para a atividade apresentar os efeitos positivos.

Um estudo realizado na Universidade de Glasgow, na Escócia, com 2 mil voluntários fisicamente ativos, descobriu que pessoas que fazem exercícios ao ar livre ficam 50% mais felizes do que aquelas que passam horas dentro da academia.

Os pesquisadores analisaram ambientes naturais e não naturais para atividades que incluíam caminhadas, corrida e ciclismo, e descobriram que estar em torno de árvores e grama reduzia os níveis de estresse cerebral.

De acordo com outro estudo realizado pela Universidade de Glasgow, pessoas que fazem atividades físicas fora da academia sintetizam melhor a vitamina D.

Após estudos, pesquisadores do Reino Unido, concluíram que os adeptos de exercícios externos ficavam mais propensos a repetir a atividade dentro de um período do que aqueles que só frequentavam academia.

A explicação é que realizar exercícios ao ar livre estimula mais os sentidos, o que contribui com a motivação para repetir a atividade.

Um estudo feito na Universidade de Pittsburg, nos Estados Unidos, apontou que os pacientes que têm contato frequente com a luz do sol apresentam recuperação mais rápida e menos dor que os pacientes que não vão aos ambientes externos.

Esther M. Sterberg, fala em seu livro “The Science of Place and Well-Being” sobre os chamados espaços que curam.

A autora cita o caso de um pesquisador que em 1980 descobriu que pacientes que mantinham contato com a natureza recuperavam-se mais rápido que aqueles que não estavam inseridos neste ambiente.

A partir daí, constatou-se que a saúde do ambiente ou a humanização deste está diretamente ligada à saúde do corpo e mente.

Este tema não é tão moderno quanto parece, um dos maiores exemplos disso é o Hospital de La Santa Creu I Sant Pau, localizado em Barcelona.

Fundado em 1401, teve seu endereço transferido em 1902 para o distrito de Eixample, devido ao crescimento da cidade.

Em seu novo projeto, coordenado pelo arquiteto Lluís Domènech I Montaner, foram construídos 12 pavilhões, interligados.

Ao conceber a ideia do novo hospital, Lluís teve a preocupação de manter a luminosidade natural e a vegetação em diversos pontos da construção, garantindo assim a sensação de bem-estar entre os pacientes.

Umas das explicações que embasa esse novo conceito de arquitetura é a que o ambiente hospitalar quando humanizado afeta diretamente na recuperação de pacientes.

Sendo assim, propiciar um clima acolhedor, excetuando a frieza e impessoalidade comumente encontrada em unidades hospitalares, é uma preocupação latente entre gestores, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e arquitetos.

Projetar ambientes que tragam a sensação de conforto, acolhimento e impulsionem a recuperação deve ser uma das preocupações da gestão hospitalar moderna e humanizada.

A aplicação deste modelo de assistência humanizada contribui diretamente para o bem-estar dos pacientes, aumentando exponencialmente suas chances de recuperação.

 

Por Sabrina Donatti F. da Silva
Graduada em Fisioterapia pela Universidade São Francisco. Especialista em Fisioterapia em Terapia Intensiva pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO) e pelo Centro de Estudos e Pesquisa em Terapia Intensiva (CEPETI). Pós-Graduação em Fisioterapia Cardiorrespiratória pela Universidade Tuiuti. MBA em Gestão, Qualidade e Auditoria em Saúde pela Faculdade Inspirar. Diretora do Núcleo de Gestão e Qualidade da Prófisio Assistência Fisioterápica. Coordenadora de Fisioterapia Hospital do Trabalhador (Prófisio). Docente da Faculdade Inspirar.

 

REFERÊNCIAS

  • BARTON, J and PRETTY, J. What is the Best Dose of Nature and Green Exercise for Improving Mental Health? A Multi-Study Analysis. Environmental Science & Technology 2010 44 (10), 3947-3955 DOI: 10.1021/es903183r
  • Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Política nacional de promoção da saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2006.
  • CASTAÑON JAB, PAIVA CR, FONSECA KM, CARNEIRO RS. Academias ao Ar Livre: uma análise dos espaços públicos. Blucher Engineering Proceedings. 2016;3(3):126-137. DOI: http://dx.doi.org/10.5151/engpro-conaerg2016-7011, https://doi.org/10.5151/engproconaerg2016-7011.
  • COHEN DA, MCKENZIE TL, SEHGAL A, WILLIAMSON S, GOLINELLI D, LURIE N. Contribution of public parks to physical activity.AmJ Public Health 2007;97:509 –14.
  • LANDEIRO, GMB, et al. Revisão sistemática dos estudos sobre qualidade de vida indexados na base de dados Scielo. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 16, n. 10, p. 4257-4266, 2011.
  • LONDE, PR., MENDES, PC. A influência das áreas verdes na qualidade de vida urbana. Hygeia: Revista Brasileira de Geografia Médica e da Saúde. 2014; 10 (18): 264. http://www.seer.ufu.br/index.php/hygeia/article/view/26487.
  • MAAS J, VERHEIJ RA, SPREEUWENBERG P, GROENEWEGEN PP. Physical activity as a possible mechanism behind the relationship between green space and health: a multilevel analysis. BMC Public Health 2008.
  • NAHAS, M V. Atividade Física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. 6 ed. Londrina: Midiograf, 2013.
  • SILVA EAPC, SILVA PPC, SANTOS ARM, CARTAXO HGO, RECHIA S, FREITAS CMSM. Espaços públicos de lazer na promoção da qualidade de vida: uma revisão integrativa. LICERE-Revista do Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Estudos do Lazer. 2013;16(2)1-18. https://seer.ufmg.br/index.php/licere/article/view/372/267
  • SILVA, RS, et al. Atividade física e qualidade de vida. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2010, vol.15, n.1, pp.115-120. ISSN 14138123. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232010000100017.
  • VASCONCELOS VJ, ROSA HC. Qualidade de vida a prática de atividades físicas no horto florestal em rio branco–ac. South American Journal of Basic Education, Technical and Technological 2016;3(1)137-141. http://revistas.ufac.br:8081/revista/index.php/SAJEBTT/article/view/514/306.
  • WERNECK, FZ.; BARA FILHO, MG; RIBEIRO, L. C. S. Efeitos do exercício físico sobre os estados de humor: uma revisão. Revista Brasileira de Psicologia do Esporte e do Exercício, Juiz de Fora, v. 0, n. 0, p.22-54, 2006.
  • ZHAO G, Li C, FORD ES, FULTON JE, CARLSON SA, OKORO CA, et al. Leisure-time aerobic physical activity, muscle-strengthening activity and mortality risks among US adults: the NHANES linked mortality study. Br J Sports Med. 2014;48(3):244-9.
  • http://www.acr.arq.br/blog/arquitetura-humanizada
  • https://exame.abril.com.br/negocios/dino/exercicios-ao-ar-livre-tornam-aspessoas-50-mais-felizes-dino89089447131/