Reabilitação precoce do paciente amputado
Amputação consiste na retirada total ou parcial de um membro não funcional devido doença ou lesão, sendo a amputação de membro inferior mais frequente que a de membro superior.
As causas mais comuns são diabetes, doença vascular periférica, infecções, traumas e tumores malignos e, dentre estas, as causas traumáticas correspondem a 20% dos casos, atingindo mais o adulto jovem do sexo masculino, decorrentes de acidentes de trânsito ou ferimentos por arma de fogo.
A cirurgia de amputação tem por objetivo retirar total ou parcialmente o membro acometido e criar novas perspectivas de funcionalidade para a região amputada.
Sabe-se que quanto mais longo o membro residual e melhor a qualidade da cicatrização, melhor o prognóstico de reabilitação e adaptação à prótese.
O programa de reabilitação no pós-operatório é dividido em fase pós-cirurgica, que compreende o tempo entre a cirurgia e a protetização, e a fase protética que se inicia com a entrega do membro de reposição permanente .
Quanto mais precoce iniciar o processo de reabilitação, melhor a recuperação e adaptação do paciente à nova condição e menor a chance de complicações como contraturas musculares, debilidade geral e estado psicológico depressivo.
A reabilitação necessitará de uma ação conjunta da equipe multidisciplinar e, quando possível, as ações de reabilitação podem ser iniciadas na fase pré-cirúrgica, com avaliação física, melhora do condicionamento cardiopulmonar, orientações sobre prognóstico funcional e metas de reabilitação a serem atingidas.
Nesta fase também se inicia o preparo psicológico para lidar com todo o processo, facilitando a aceitação da nova condição e adesão ao programa de reabilitação.
O fisioterapeuta precisa estar envolvido logo cedo no atendimento do paciente amputado.
O profissional é responsável por avaliar a condição do membro acometido, mensurar e melhorar sua função cardiopulmonar e fisiológica geral, pré e pós cirúrgica, analisar o grau de independência, identificar alterações de sensibilidade e dor fantasma, orientar o paciente, familiares ou cuidadores e definir planos para alta hospitalar.
Fase hospitalar
Após o procedimento cirúrgico, o fisioterapeuta se depara com um paciente fragilizado pelo procedimento, em luto (ou em negação) pela perda do membro acometido e apresentando quadro álgico intenso, tanto no local da incisão cirúrgica, quanto no membro fantasma.
Os primeiros atendimentos não são fáceis e é necessário que toda a equipe esteja envolvida a fim de acolher o paciente de forma humanizada, amenizar o sofrimento, gerar conforto e incentivar a adesão do paciente e familiares no processo de reabilitação.
O fisioterapeuta terá como objetivo:
- Garantir um equilíbrio muscular adequado, recuperando a função muscular prévia através de recursos como cinesioterapia, eletroestimulação e retirada precoce do leito.
- Amenizar o quadro álgico no membro acometido e em outras regiões. É comum o paciente desenvolver áreas de tensão muscular devido ao tempo de imobilidade no leito, pela ansiedade e pelo quadro álgico, que mesmo com alternativas medicamentosas, demoram a se resolver. O fisioterapeuta pode utilizar de terapias manuais, bandagem funcional, eletro e termoterapia para auxiliar neste momento.
- Impedir contraturas musculares e posturas viciosas assim como iniciar o processo de dessensibilização e modelagem do coto assim que for liberado pelo médico cirurgião responsável.
- Estimular o paciente no desenvolvimento de habilidades, através dos treinos de transferências, de deambulação com muletas e de equilíbrio em ortostase.
- Facilitar a aceitação da nova condição e favorecer o ajuste da imagem corporal.
- Orientar o paciente e familiares quanto ao processo de reabilitação em todas as fases e sanar possíveis dúvidas que certamente surgirão.
Sucesso na Reabilitação
O sucesso do programa de reabilitação se dá pelo estado psicológico e fisiológico do paciente e pelas características do membro residual, garantindo a recuperação da funcionalidade pré-amputação.
É um processo longo, com várias etapas e objetivos a serem alcançados, porém com o comprometimento de todos os envolvidos o resultado deve ser favorável e o paciente será capaz de retomar sua vida, objetivos e sonhos que poderão ser os mesmos ou novos.
Existem vários pacientes amputados que nos marcaram, além de tantos outros exemplos ao nosso redor.
Exemplos de que a falta de um membro ou parte dele não limita e que sempre podemos superar os obstáculos que surgirem no caminho.
Por Larissa Mello Dias
Fisioterapeuta Prófisio – Coordenadora da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital do Trabalhador
Supervisora da Pós Graduação de Fisioterapia em Terapia Intensiva, Treinamento em Serviço – Faculdade Inspirar
Especialização em Terapia Intensiva pela Faculdade Inspirar
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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